Voltei a ler a postagem de janeiro que fiz às vésperas da minha mudança para Porto Alegre e fiquei muito animada com os comentários, porque percebi que muitas de vocês passaram pela mesma coisa que eu. O melhor foi saber que vocês também acabaram seguindo as suas respectivas "profissões dos sonhos", assim como eu. Por isso, resolvi contar como foi o primeiro semestre dividindo apartamento na capital e cursando Publicidade e Propaganda na ESPM-Sul.
Os primeiros dias em Porto Alegre foram o caos na Terra.
Sobre fazer amizades e "primeiras impressões"
Estudei na mesma escola por 15 anos, então nunca tive que me esforçar para fazer amizades. No meu caso, elas aconteciam naturalmente, pois eu já estava familiarizada com o ambiente. Só que em Porto Alegre tive lutar muito contra a timidez e a insegurança para começar a trocar algumas palavras com os meus colegas. A questão da "primeira impressão" ficava martelando na minha mente o tempo todo e essa preocupação em parecer alguém simpático, confiante e divertido fazia com que eu tivesse o triplo de dificuldade em socializar.
Ao fim da primeira semana eu já estava desesperada, porque todo mundo fala que "é na faculdade que fazemos as maiores amizades das nossas vidas". Só repetia em todas as ligações para a minha mãe que não conseguia enxergar ninguém que pudesse ser como meus amigos do Colégio.
Em suma, essa foi a primeira grande preocupação que tive em Porto Alegre.
Depois de três semanas, eu já tinha a consciência de que tinha encontrado pessoas maravilhosas para dividirem os próximos quatro anos comigo. Sério. Em cada um dos meus amigos tem um pedacinho de mim, por isso que foi difícil me adequar a um grupo fixo nos trabalhos de faculdade durante o primeiro semestre - é tanta gente incrível que eu sentia que tinha que conhecer mais sobre cada um, sem me apegar a apenas duas ou três pessoas.
De fato, a primeira impressão que eu passei para os meus colegas foi justamente a que eu queria evitar: sou tímida no início de qualquer tipo de relacionamento. Os tímidos muitas vezes acabam sendo prejudicados em alguns casos. Eu, por exemplo, tinha muito medo que essa timidez me impedisse de mostrar a capacidade profissional que tenho em algumas áreas. No fim, conforme o tempo e a convivência aumentaram, todos começaram a entender que eu era encabulada até começar a adquirir mais intimidade com cada um. Depois que me habituei ao espaço da faculdade e à minha nova realidade, fui capaz de me relacionar muito bem com toda a turma.
Sobre insegurança e atos corajosos
No outro post comentei que no meu grupo de amigas eu tinha o apelido carinhoso de "menina-bolha". Pois bem, o mundo dá voltas.
Sempre fico procurando por episódios da minha infância que expliquem psicologicamente o porquê de eu ser tão insegura e ansiosa, mas nunca consigo encontrar algo concreto. Eu sempre tive aversão a ter que me manifestar durante as aulas no Colégio, até para coisas simples (como responder uma pergunta do conteúdo para o professor). Meu coração ficava acelerado só de pensar que podiam me chamar para responder, porque temia muito a possibilidade de errar na frente dos meus colegas e acabarem me achando burra. Pra resumir pra vocês, além de insegura e ansiosa, eu também tinha um problema gravíssimo chamado "se-importar-com-a-opinião-dos-outros" e o pior: construir opiniões sobre mim que nunca passaram pela cabeça dos meus colegas, era tudo eu que criava na minha própria mente.
Nesse sentido de evolução pessoal, ter me mudado para Porto Alegre e entrado pra faculdade foi infinitamente importante (assim como ter frequentado a psicóloga durante meu terceiro ano do Ensino Médio). Desde o primeiro dia da faculdade tive que lidar com muitas situações em que precisei me expor, falar em público, me comunicar com pessoas que não me conheciam (e não possuíam nenhuma empatia comigo ainda). Nas apresentações de trabalhos, acabei aprendendo a controlar o nervosismo e perdi o medo de andar sozinha pela faculdade (sim, eu sempre evitei andar sozinha porque achava que isso facilitaria comentários e olhares negativos sobre mim).
Entrei na faculdade determinada a mudar esses traços da minha personalidade, por isso logo me inscrevi em um curso no turno da tarde para conhecer mais pessoas, me familiarizar, aprender, me comunicar.
Posso dizer com certeza que um dos maiores passos que dei no primeiro semestre foi ter aprendido a me posicionar, dar a minha opinião, levantar a mão e debater. Para muitas de vocês pode parecer pura bobagem, mas considero esse, além da mudança de cidade, um dos atos mais corajosos que tive na minha vida. É muito difícil ir contra a como estamos acostumados a agir, por esse motivo todo dia que dava um passo pequeno desses era um motivo para comemorar a minha decisão de mudar.
Mesmo assim, não me considero 100% livre de todos os problemas de insegurança que tinha anteriormente. Aliás, um dos meus grandes amigos da faculdade me disse algo recentemente que só me motivou a continuar lutando contra esse comportamento destrutivo: ele me disse que tenho muito potencial e futuro na área que escolhi, mas que faltava uma maior imposição da minha parte em algumas situações. Isso não vale só para mim, mas para todo mundo que sofre com essa insegurança e com todas as implicações dela.
Sobre independência, dividir apartamento e convivência
Divido um apartamento ao lado da faculdade com uma amiga que estudou comigo desde a 7ª série. Nós não éramos tão próximas, mas o tempo que passamos afastadas foi recompensado nesse primeiro semestre.
Temos personalidades bem diferentes e, por isso, muita gente não acreditava que nós daríamos certo dividindo o mesmo espaço. Nós ouvimos de uma antiga colega que achavam que "iríamos nos matar". Depois de meses convivendo juntas diariamente, nós só rimos da situação porque, lá no fundo, a gente também tinha essa suspeita. Às vezes acho que se morasse com uma das minhas melhores amigas, talvez não tivesse funcionado tão bem quanto funcionou. Chegamos ao final do semestre com o incrível número de zero brigas e apenas um desentendimento. Ou seja, sucesso total.
A maioria das pessoas reclama de ter que dividir seu espaço com outra pessoa, pois considera isso muito intrusivo. Nós não tivemos esse problema. Ela tinha uma irmã mais nova, então sabia o que era dividir. Eu, mesmo sendo uma filha única mimada, seria capaz de qualquer coisa em nome de manter a paz entre nós duas e não tenho problema nenhum com repartir o que é meu. É tudo uma questão de colocar em perspectiva o quanto você é capaz de se adaptar a uma situação para fazer as coisas darem certo. Desde o momento em que ficou acertado que dividiríamos apartamento, eu fiz uma promessa mental de deixar egoísmo e vaidade de lado para tornar a experiência menos estressante para todos.
Acho que dei muita sorte de ter encontrado ela para dividir apartamento. Para mim não era um estranho ali, mas uma presença quase familiar. Mas, ao mesmo tempo, não tinha aquela intimidade toda que pode gerar comodismo entre as duas partes (quando as pessoas são muito próximas, pode ter um desleixo nas atividades domésticas). Então, meu conselho pra quem for dividir apartamento é esse: alguém conhecido, mas não seu melhor amigo.
A convivência trouxe coisas ótimas para a nossa amizade. Ela, por ser um ano mais velha, me deu ótimos conselhos e me ajudou nessa enxurrada de experiências novas dos últimos meses. E também tenho certeza que teve muita paciência comigo. Houve momentos em que nós duas estávamos no limite do estresse, com provas e trabalhos para entregar, mas soubemos respeitar o espaço de cada uma e nos ajudamos várias vezes. Esse foi o segredo; tivemos muita empatia uma com a outra, já que estávamos entrando nessa vida nova juntas.
Sair da minha zona de conforto foi a melhor decisão que tomei na minha vida, por enquanto. Acho que nunca vou sair desse estado de êxtase que estou desde que as aulas começaram. Eu tenho certeza que esses cinco meses já fizeram valer a pena todos os momentos em que tive que bater o pé para conseguir ir para Porto Alegre. É maravilhoso esse sentimento que eu carrego todos os dias, de saber que tomei a melhor decisão para mim (e, embora minha família tenha relutância em aceitar, a melhor decisão para eles também). Parece que o fato de eu ter conseguido realizar tantas coisas em tão pouco tempo me dá aquela confiança que antes faltava completamente em mim. Parece que está tudo mais ao meu alcance, até aqueles sonhos mais loucos que eu tinha.
Essa experiência está sendo a oportunidade ideal para eu me conhecer melhor. Quando a gente fica longe de quem a gente ama, por mais doloroso que seja, somos obrigados a encarar algumas coisas que estão lá no fundo da gente. Já aprendi muito sobre mim mesma sobre coisas que nem sabia que existiam.
A única coisa que eu quero a partir de agora é continuar colecionando novas experiências, conhecendo lugares e pessoas novas... Enfim, me aventurando - mesmo que seja nas coisas mais banais do cotidiano (como pegar um Uber para conhecer um lugar legal de Porto Alegre ou caminhar sozinha na rua). Sério, essas coisas me animam muito.
- terça-feira, julho 19, 2016
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